Toda organização é ao mesmo tempo mais e menos do que a soma de seus membros. É menos porque os integrantes do grupo dedicam apenas parte de seu tempo a ela; e é mais porque, como um todo, a organização pode realizar coisas que os membros não têm como fazer sozinhos.
Um dia desses, quando eu ia da estação ferroviária de Pathankot para o lugar onde moro, em Dharamsala, o carro teve de parar porque havia lenhadores cortando uma árvore que corria o risco de tombar na rua. Depois que ela foi derrubada, dois senhores idosos e magros começaram a serrar o tronco em pedaços, para liberar a via. Como você pode imaginar, um número crescente de carros foi se enfileirando de ambos os lados da árvore caída. Muita gente saltou dos automóveis para ver os dois homens batalhando com a serra. Devia haver mais de 100 pessoas olhando. Então um dos espectadores avançou e, acenando com o braço, chamou outras pessoas para ajudá-lo a empurrar a árvore para o acostamento. Em menos de cinco minutos, 20 homens a deslocaram e o trânsito foi liberado.
Isso demonstrou, de maneira muito simples, o que as pessoas podem fazer quando cooperam umas com as outras. Também me ocorreu que, se ninguém tivesse tomado a iniciativa de retirar a árvore num esforço coletivo, teríamos sido obrigados a esperar mais de duas horas para podermos seguir caminho. As pessoas que retiraram a árvore não eram uma empresa e nem sequer estavam organizadas, mas tinham um objetivo comum e contaram com um líder espontâneo, que tomou a iniciativa de solucionar o problema.
Se parte do papel do líder é esclarecer os objetivos e inspirar confiança nas metas e valores da organização, que papel desempenha a empresa? Será que seu verdadeiro propósito é simplesmente obter lucros - "gerar o máximo de riqueza para os acionistas" -, ou haverá algo maior em jogo? É claro que os executivos vão argumentar que o lucro é o mais importante, caso contrário, a companhia não poderá sobreviver. É verdade, mas os executivos que pensam mais à frente reconhecem que, à parte o lucro, as empresas e organizações podem alcançar outras metas admiráveis.
Décadas atrás, em 1977, o professor Peter Drucker comentou:
Uma empresa não pode ser definida nem explicada em termos do lucro. Se lhe indagarmos o que é uma empresa, o empresário típico tenderá a responder que é "uma organização feita para gerar lucros". É provável que o economista típico responda a mesma coisa. Essa resposta não é apenas falsa, mas irrelevante. O conceito de maximização do lucro não tem sentido, na verdade. A lucratividade não é o objetivo, e sim o fator limitante da iniciativa empresarial. O lucro não é a explicação, a causa nem a lógica das decisões empresariais, mas um teste de sua validade. O objetivo da empresa deve estar fora dela mesma. A rigor, deve estar na sociedade, já que a empresa comercial é um órgão da sociedade.
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Na tradição budista, temos uma visão muito clara do lucro. Ele é um belo objetivo, desde que seja ganho honestamente. Afirmar que o papel das empresas é gerar lucro faz tão pouco sentido quanto dizer que o papel de uma pessoa é comer ou respirar. Se uma empresa tiver prejuízos, ela morrerá, assim como uma pessoa sem alimento, mas isso não significa que a finalidade da vida seja comer.
Trecho retirado do livro Liderança para um mundo melhor, escrito por Dalai-Lama e Laurens van den Muyzenberg.
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